1 de julho de 2014

Gás Natural Veicular - Opção ou Decepção?



Vimos na matéria anterior que, atualmente não está mais compensando financeiramente a utilização de etanol ao invés de gasolina, visto que o etanol consume em média 30% a mais do que a gasolina e a diferença de preços entre gasolina e etanol está menor do que essa diferença.
Porém, temos uma segunda opção de utilização de um combustível em substituição à gasolina, que já é usado a bastante tempo por taxistas e veículos de frotas e transporte: o Gás Natural Veicular ou simplesmente GNV.
​Em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, paticamente a totalidade da frota de táxis utiliza esse combustível, visto que a sua economia é bem atraente em relação à gasolina e ao etanol, no que se refere ao custo do km rodado. Porém, é necessário levar em consideração alguns parâmetros para que se chegue à conclusão de que o GNV será mais compensatório.
Vamos apresentar aqui as vantagens e desvantagens de se instalar um kit GNV em seu veículo e os cuidados que são necessários ao utilizar essa fonte alternativa. Além disso, apresentarei alguns comentários em cada item analisado.
VANTAGENS
1. Manutenção das propriedades do óleo lubrificante
Devido ao fato de o GNV ser um combustível seco, não ocorre contaminação do óleo lubrificante, sendo assim, o óleo permanece com as características originais de fabricação e com suas propriedades lubrificantes inalteradas, o que favorece a manutenção do motor.
NOTA DO AUTOR: É muito comum encontrarmos a informação de que o GNV aumenta a vida útil do óleo, inclusive sugerindo o aumento no intervalo entre as trocas. Essa informação deve ser analisada com um pouco de critério, pois todo óleo é projetado para uma determinada kilometragem e deve ser substituído nos prazos recomendados pelos fabricantes dos veículos. Mesmo com a ausência de contaminação, o óleo perde a viscosidade em função do tempo de uso e da kilometragem, propriedade esta que é a principal quando se fala em manutenção dos motores. Na dúvida, continue substituindo o óleo dentro do prazo estipulado pelo fabricante.
2. Limpeza da injeção eletrônica
Devido ao GNV ser limpo e não sofrer com adulterações, como acontece com a gasolina, não há acúmulo de resíduos nos bicos injetores e no sistema de injeção.
NOTA DO AUTOR: Atualmente, os kits GNV oferecidos no mercado são os chamados de 5ª geração. A diferença principal nesse kit é que o sistema de alimentação é realizado por bicos injetores, extamente iguais aos utilizados pela injeção original do veículo, ou seja, há um sistema de injeção de GNV INDEPENDENTE do sistema original do carro. Os primeiros kits instalados utilizavam o sistema de injeção de GNV através de vácuo ou venturi, sendo necessário compartilhar o sistema de injeção original. Desta forma, a vantagem acima descrita é válida para os veículos que possuem kits anteriores aos de 5ª geração.
3. Aumento da vida útil do escapamento
Como não há o acúmulo de água proveniente da gasolina e do álcool, a ocorrência de corrosões no sistema pode ser reduzida.
NOTA DO AUTOR: Essa vantagem pode variar muito em função do modelo e da forma de utilização veículo, sendo uns mais sensíveis que outros.
4. Economia tangível
Além de o GNV consumir menos do que a gasolina e o etanol, a conversão possibilita uma redução de até 75% no valor do IPVA.
NOTA DO AUTOR: A redução de até 75% no IPVA refere-se ao estado do Rio de Janeiro. Em São Paulo, a redução é de 25% e em alguns estados como Santa Catarina, não há redução. Desta forma, verifique no DETRAN local as reduções praticadas em seu estado.
5. Reserva
Hoje, as reservas no mundo estão estimadas em 160 bilhões de toneladas de petróleo, o que garante um abastecimento de mais ou menos 40 anos, enquanto que o GNV possui reservas estimadas em 65 anos.
NOTA DO AUTOR: Temos acompanhado que essas estimativas mudam frequentemente, em função de descobertas de novos campos de petróleo. Entretanto, cabe ressaltar que onde há petróleo, normalmente há gás natural associado.
6. Combustível menos poluente
O GNV reduz sensivelmente o impacto ambiental, reduzindo emissões de poluentes na atmosfera, em função de suas propriedades e também em função da inexistência de GNV adulterado, como foi informado anteriormente.
NOTA DO AUTOR: Essa condição é satisfeita, desde que o veículo seja mantido sempre regulado. Caso contrário, o veículo movido a GNV desregulado polui até mais do que o mesmo veículo a gasolina ou etanol.
DESVANTAGENS
1. Envelhecimento da gasolina
Com a utilização frequente do GNV, pode ocorrer o esquecimento por parte do motorista de que há combustível líquido no tanque e a gasolina/etanol envelhecem, perdendo quase todas as suas propriedades após três ou quatro meses sem uso.
NOTA DO AUTOR: Todo veículo movido a GNV possui uma chave comutadora, que gerencia a mudança de utilização de um combustível para outro. Desta forma, a partida do motor é efetuada utilizando-se sempre o combustível líquido que está no tanque para depois, automaticamente ocorrer a mudança para o GNV, garantindo um consumo, mesmo que pequeno, do combustível líquido.

Assim, se o motorista for rodar pouco, é recomendável manter o nível de combustível no tanque entre 1/4 e metade, em vez de completá-lo toda vez que for ao posto. Desta forma, há a garantia de ter sempre combustível recente no tanque, além de não ocorrer a paralisação do veículo se o GNV acabar.
2. Travamento das Válvulas
Sendo o GNV um combustível seco, os cilindros irão funcionar sem a lubrificação existente no combustível líquido, podendo causar avaria. O ideal é usar o combustível líquido por por alguns kilômetros todos os dias.
3. Surgimento de trincas no cabeçote
Devido a maior pressão no sistema, a probabilidade de surgir pequenas trincas no cabeçote aumenta. Desta forma é necessário manter o motor sempre regulado e seguir as recomendações das empresas de conversão.
4. Os cabos de vela se desgastam mais rápido
Por serem mais exigidos, a vida útil tende a cair em até 50%. Em função desse desgaste, existe no mercado algumas velas específicas para uso em carros a gás.
5. Maior desgaste de componentes
Em função da perda de potência do motor, alguns componentes como a embreagem sofrem maior desgaste, pois é necessário acelerar mais para que o carro tenha o mesmo desempenho de quando movido a combustível líquido. Além disso, como há um incremento de peso com a instalação do kit, invariavelmente há a exigência de se efetuar um reforço na suspensão no local onde é instalado o cilindro para que o carro não fique muito baixo.
NOTA DO AUTOR: Normalmente, o reforço na suspensão consiste na substituição das molas originais por molas reforçadas. Pode-se fazer também a substituição dos amortecedores por modelos especiais para veículos movidos a GNV.
6. Porta-malas
O espaço diminui, em função da instalação do cilindro neste local.
NOTA DO AUTOR: Em alguns veículos, como o EcoSport, é possível instalar os cilindros na parte inferior, onde antes ficaria o estepe. Desta forma, o espaço no porta-malas não é comprometido.
Mesmo após apresentar todas as vantagens e desvantagens, é necessário fazer os cálculos, levando-se em consideração os custos envolvidos na conversão do veículo para GNV. Vamos fazer uma simulação e verificar a partir de quando é vantajoso a conversão do veículo.
Suponha um proprietário que pretende converter o seu veículo para utilização do GNV. Vamos então apresentar os custos envolvidos pra então concluirmos se será vantajoso.
- Custo do kit GNV 16 m³ (padrão 5ª geração) - R$ 4.000,00
- Homologação do veículo (anual) - R$ 120,00
- Teste do cilindro (a cada 5 anos) - R$ 40,00/ano
- Alteração junto ao DETRAN (pagamento de DUDA) - R$ 250,00
- Reforço na suspensão traseira (troca de molas) - R$ 500,00
CUSTO TOTAL: R$ 5.000,00 (aprox.)
- Preço do GNV (RJ) - R$ 1,75/m³
- Consumo médio - 13 km/m³
- Custo por km rodado - R$ 0,14/km
- Preço da gasolina (RJ) - R$ 3,20/l
- Consumo médio - 10 km/l
- Custo por km rodado - R$ 0,32/km
Sendo assim, a diferença de custo por km rodado entre o GNV e a gasolina é de R$ 0,18/km. Levando-se em consideração que o custo inicial de conversão foi de R$ 5.000,00, temos:
R$ 5.000,00 / R$ 0,18/km = 28.000 km (aprox.)
Ou seja, somente após rodarmos 28.000 km, o custo mais baixo do GNV irá realmente fazer diferença no bolso.
Considerando que o ano possui 365 dias e desprezando os fins de semana e feriados, temos:
28.000 km / 365 dias = 80 km/dia (aprox.)
Ou seja, para quem roda até 80 km/dia, o retorno do investimento irá se realizar a partir do 1º ano, ou mais.
Conclusão
A instalação de um kit GNV traz inúmeras vantagens econômicas e ambientais, porém é recomendada àqueles motoristas que utilizam seus veículos para fins profissionais ou para grandes deslocamentos diários.
Deve-se levar em consideração a disponibilidade de postos de GNV na localidade onde o veículo irá circular. Na maioria dos municípios não há postos de GNV, em virtude de demanda e de inviabilidade econômica. As grandes capitais já possuem um sistema bem implementado, com grande quantidade de pontos de abastecimento, tornando mais simples a utilização deste combustível.
Também é necessário salientar que a retirada do kit do veículo, apesar de possível, não é recomendada, pois os indícios de uma instalação anterior ficarão evidentes. Além disso, na hora da revenda de um veículo convertido, o valor pago pelo kit não será reembolsável, ou seja, o veículo não valerá nada a mais do que um similar sem kit, levando à "perda" do investimento inicial.
No fim, cabe ao proprietário a decisão de efetuar ou não a conversão de seu veículo, após analisar toda a informação contida nesta matéria.
Até a próxima.

Nenhum comentário:

Postar um comentário